Thursday, January 27, 2005

Salário por comissão: Taií uma péssima idéia

Eu na fila do banco, chega uma garota vestida de azul turquesa e laranja.

- Oi, você é cliente do Itaú?
- Sô, sossim.
- Você conhece o LIS Itaú?
- Cheque especial, né? Ô se conheço.
*cara de decepção*
- E o Taií, você conhece? VOCÊ GOSTARIA DE ESTAR CONHECENDO, NO CASO?
- Que é isso, uma extensão do cheque especial ou uma linha de crédito rápido?
*cara de dúvida*
- Então, no caso, seria um dinheiro a mais pra você, né?
- Uma linha de crédito, você quer dizer?
*?*
- É, no caso seria sim, isso mesmo. Acho que sim.
- Olha, depois eu pego um folheto e penso no caso, ok?
- Okay.

Saio da agência intrigado com o descaso do banco, que nem se deu ao trabalho de treinar direito seus funcionários. Na calçada, mais um laranja-turquesa.

- Senhor, conhece a linha de crédito do Itaú, senhorr?
- Não, mas me dá um desses folhetos pra eu conhecer. Obrigado.
- Senhorr, está com seu CPF aí, senhorr?
*vácuo*

Uns três metros adiante, outra bicolor.

- Oiii. Pegou o folhetinho? Não quer conhecer o Taií?
- Nah, vou ler o folheto e me informar. Obrigado.
- Vem cá que eu te informo. *mão na minha cintura*
- Heheh, sério, não tenho tempo agora. *o famoso truque*
- É rapidinho, vem cáaaa... *segurando minha mão*
- Moça, eu peguei o folheto, vou ler e pensar. Ok?
- MAS EU SOU SEU PENSAMENTO. *atingindo o desespero*
- Hahahah. *pensando em coisas bem sujas pra ver se ela conseguiria ler*

Continuamos andando de mãos dadas uns dez metros, eu e a coloridinha. Incrível o estágio de desespero a que o pagamento por comissão leva as pessoas. Mas ainda faltava o último obstáculo.

- Olá. Voc...
- Avoua!

Sumiram com as não-loiras

O que o People + Arts fez com o melhor programa de câmera escondida que já existiu? Uns meses atrás, o programa Elas Não São Loiras (3 Non Blondes, no original)deixou de ser exibido várias vezes por semana para uma magra e discreta apresentação nas noites de segunda-feira. Eu quase nunca podia ver, mas fazia um esforço, porque eram episódios inéditos. De umas semanas pra cá, nem nesse horário eles têm passado. Que é do programa mais hilário da tevê? Que é dele?



Tá boua?

As atrizes Ninia Benjamin, Tameka Empson e Jocelyn Jee Esien faziam papéis absolutamente nonsense nas ruas de Londres. Tocavam o terror como freiras fumantes, prostitutas, cantoras decadentes, policiais ninfomaníacas e rappers pouco inspiradas, entre outras figuras feias. Aqui, a graça não era tirar uma com a cara dos incautos. Quem fazia o papelão eram elas próprias, o que era muito respeitoso, sem deixar de ser hilário. Very british.

Inesquecíveis os quadros das disputas de break na rua. Duas delas encenavam uma briga e tudo era resolvido com passinhos de break, uma tentando provar que era mais fodona que a outra. Igualmente memoráveis eram os testes para o musical dedicado a Whitney Houston, no qual elas, como professoras, ensinavam passinhos ridículos acompanhados de refrões como "Eu me acabei no pó" e "Oh, Lord, take me back to Africa". Por que eu não gravei?, me pergunto. Sei lá, me respondo.

O site tosco do People + Arts não informa a programação do canal, nem oferece um e-mail para contato, então, pelo menos por enquanto, continuaremos sem saber o que se passa. O site da BBC 3, criadora do programa, é melhor, mas fica devendo uns vídeos pra gente lembrar. Alguém aí tem 22,99 libras e um amigo passeando na Inglaterra?

Tuesday, January 25, 2005

Acho cool


Eu, Thiago e Creiço. O Elefante é fã de Parmalat. Posted by Hello

Monday, January 24, 2005

Esquimó com castanholas

Mês sim, mês não, a Björk tá lançando algum produto novo no mercado, para o desespero de seus pobres fãs, que ficam ainda mais pobres e desesperados. Desta vez, saíram quatro CDs com apresentações ao vivo dos primeiros trabalhos solo da artista islandesa (Debut, Post, Homogenic e Vespertine). Eu já ganhei dois deles, regalos de dois amigos queridos.



O que impressiona mais é que todos esses lançamentos têm sempre ótima qualidade e alguma novidade que faz com que cada um seja um must-have. No Homogenic ao vivo, por exemplo, além da entrevista no encarte, há essa música chamada So Broken, que dá raiva de tão boa. (Ants é bonzinho e coloca link pro povão ouvir) A música era originalmente um lado B, e só foi apresentada em três oportunidades. Uma elas está no CD.

Um coração partido, uma guitarra espanhola, uma voz gélida islandesa e isso é tudo. O suficiente para arrepiar o mais insensível dos cristãos. Você fecha os olhos e é como se estivesse num tablao flamenco de uma Sevilha inexplicavelmente gelada. Eu tenho uma hipótese para a onda de frio que tem deixado a Península Ibérica abaixo de zero grau.

Friday, January 21, 2005

Adeus Barbie

Ainda na H, conheci uma fotógrafa ótima chamada Lauren Greenfield. Ela é renomada por retratar as (fúteis, precoces, hedonistas, consumistas, depressivas) adolescentes americanas. Mas tudo isso sem o humor negro que costuma acompanhar esse tema. Lauren tem é pena das meninas, e, de alguma maneira que eu não consigo explicar, ela nunca ultrapassa a linha tênue que separa esses dois campos.



Em seu último livro, Girl Culture, Lauren colheu depoimentos do tipo "Preferiria ser puta a ser feia" e "Meu sonho é ser stripper ou dançarina em Las Vegas".



A fotógrafa trabalha com uma sociedade marcada pelo culto à imagem (a americana) e ainda se espanta com a globalização do fenômeno. Mas a gente sabe faz tempo que isso não acontece só nos EUA, certo? Alguém aí mencionou o nome Xuxa? Carla Perez?

Mais fotos aqui ó.

Cada um com seu cada qual

As pessoas que estão sempre em evidência têm a mania de opinar sobre assuntos que não dominam. Com o microfone sempre à boca, fica difícil não sair distribuindo "eu achos" a torto e a direito. Se a gente, com um simples e modesto blog já não resiste a fazê-lo, imagine quem tem a grande mídia à sua disposição?

É preciso, pois, uma inteligência bem acima da média e força de espírito para não cair nessa tentação. Digo isso sob o impacto da leitura da entrevista da Björk para a excelente revista espanhola H (lê-se ´atche´, vale?).

"Se todos fizermos canções do tipo "I hate Bush, I hate Bush", fica tipo "e daí?". Se você só se centra em um problema, passa a fazer parte dele. (...) Caralho, eu estou tentando ter uma vida emocional e a política deveria ocupar uns 2% dessa vida. (...) Penso que se o artista tem um dever, esse dever é ter idéias melhores. Temos outro tipo de vitalidade e é nossa responsabilidade protegê-la" .

Resumindo, artistas devem fazer arte, não política. A menos que você seja o Eduardo Suplicy e realmente acredite que sabe cantar. A menos que você seja o Gilberto Gil e ganhe um cargo político. Lembrei-me de uma entrevista recente, que minha cabeça errada e velha não vai ter certeza sobre onde saiu nem mesmo sobre quem dizia. Eu acho que foi o Chico Buarque, e ele respondia algo parecido quando lhe perguntavam sobre a política econômica do governo. Algo como: se eles estudaram anos e anos para serem economistas e se conseguiram chegar ao posto que chegaram, quam sou eu para dizer que estão errados? Deixem a economia para os economistas discutirem.

Isso tudo não quer dizer que não devamos ter opiniões, mas sim que elas devem ser difundidas proporcionalmente ao conhecimento que temos sobre aquele assunto. Em um nível mais pessoal, todos têm o direito de formar e difundir sua opinião. Mas seria irresponsável um médico opinar sobre usinas de energia nuclear na mídia, por exemplo.

Wednesday, January 19, 2005

E rolou a festa

Com um pouco de atraso, preciso dizer que sábado foi ótimo lá no ampgalaxy. O fino da sociedade paulistana estava lá. Todo mundo que importa estava lá. "Simplesmente um luxo", comentou Athayde Patreze, entre um gole e outro de champanhe.

Brincadeiras à parte, comemorar seu aniversário rodeado de gente boa, inteligente, divertida e, em alguns casos, bonita (preciso dizer algo desagradável, ou o post será vedado a diabéticos) é tudo o que um mortal pode querer pra esquecer que está ficando velho.


Eu, Creiço e FeFig: a caravana de Feira de Santana foi em peso para embelezar o ambiente. A foto é do quarto conterrâneo, Celso.

Friday, January 14, 2005

TV Pirata está de volta no Multishow

O ócio tem lá suas vantagens. A de poder ver TV Pirata duas vezes por semana, por exemplo.

Consultório do analista, Diogo Vilela deitado no divã narra seu sonho a Guilherme Karam.
- Doutor, era um sonho muito estranho. Estava eu em um palco de teatro. E a platéia era toda a minha família. Eu me olho, olho para meu corpo e estou nu. Todos começam a rir de mim e eu fico com vergonha. Então eu olho para o meu corpo e ele está todo peludo, dos pés à cabeça, e eu tenho garras em minhas mãos.
- Eu estive pensando... sabe o que eu acho? – responde o analista, levantando-se com seu bloquinho de anotações na mão – Você deve jogar no Urso. Urso, macaco e veado. Vai ganhar uma bolada, na certa, rapaz.

Rio de Janeiro. Débora Bloch é uma repórter de televisão cobrindo um desastre na zona sul. Uma pedra rolou sobre a cobertura (!) da socialite Josefina (Regina Casé). Na tela, $O$ Rio. Bombeiros explodem a pedra e abrem uma fenda que dá visão para a sauna da rica, réplica das Termas de Caracalas.
- Gente, socorro – diz Josefina do meio do vapor pela fresta da rocha, com uma toalha enrolada na cabeça - A situação aqui dentro está dramática, muito difícil. Estamos sobrevivendo graças ao que tem no frigobar, mas os víveres estão acabando. Já não há champanhe!
- Calma, mamãe – diz a filha (Louise Cardoso), que veio às pressas de Nova York. Olha a solidariedade das pessoas: A Casa Fouchon já mandou um caminhão cheio de salmon, queijo brie, caviar, roquefort e semelhantes em seu auxílio. E olha aqui as baguetes que acabaram de chegar de Paris. Também estão mandando Möet.
- Parece que o impacto destruiu os encanamentos da fonte e a água está alagando a cobertura – relata a repórter. A pinacoteca da casa foi destruída. Vejam este Modigliani... Ou será Manet? Ou Monet? Sei lá, o quadro está irreconhecível. Há Van Goghs boiando.
- Ah, não! Por favor, me diz que o closet não foi atingido. *com os dedos repuxando as têmporas*
- Mamãe, olha o que sobrou desse Balenciaga.
- Valentino já anunciou que está mandando cinco vestidos da coleção pret-a-porter. Há mais alguma coisa de que vocês estão precisando, dona Josefina? Diga para as câmeras.
- Sim, olha, aqui está esfriando. Gente, preciso de um casaco de pele de marta-zibelina. Se alguém tiver pra mandar... Mas tem que ser marta-zibelina mesmo. Ou chinchila. Tenho alergia a outros tipos de peles.

Saudades de Macondo

Depois de três tentativas, eu finalmente consegui terminar de ler Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. No meu caso, o livro poderia muito bem se chamar Cem Anos de Leitura, porque eu fiquei meio lento diante das centenas de Aurelianos, dezenas de Josés Arcadios e Remedios e Rebecas. Meio difícil lembrar quem é quem. Mas o esforço valeu muito a pena, o livro é realmente impressionante e não dá para não mergulhar de cabeça no mundo mágico - e no entanto mais real que a realidade - que o Gabo criou. Vou sentir saudades de Macondo, vilarejo colombiano onde se desenvolve a narrativa circular da família Buendía. Onde mais vou encontrar anciãs de 146 anos, casais que têm o dom de fazer aumentar a sua criação de gado através do ato do amor, homens que andam sempre acompanhados por uma multidão de borboletas amarelas e mulheres que de tão belas sobem aos céus em vida, se eu não uso drogas alucinógenas?

Hoje é dia de Maria (se dar mal)

É a Maria do Bairro, Marimar ou Simplesmente Maria? Vamos resumir, que está difícil acompanhar a novela mexicana disfarçada de Gabriel Vilela com sotaque de Piraporinha do Mato.

Eita vida sufrrrrida!

Maria chega em casa. Maria apanha da meio-irmã gorda. Maria sofre assédio sexual do pai. Uma lágrima escorre pelo rosto de Maria. Maria leva chicotada da madrasta porque não trabalhou de madrugada. Maria decide fugir de casa. Maria tropeça num tronco e quebra os dentes. Maria segue em sua caminhada rumo ao marrr. Maria encontra uma fazenda repleta de crianças trabalhando em regime de escravidão, comandadas pelo diabo encarnado. Maria faz um estágio lá. Maria foge de novo. A fome consome a pequena Maria. O pássaro-marionete faz cocô na cabeça de Maria. Maria releva e canta Cai-Cai Balão. Maria chega finalmente ao litoral. Maria pega bicho geográfico na Praia Grande antes de se afogar na primeira onda. Ainda tem tempo de dizer:
- Eita marrr brrrabo!
FIM

Monday, January 10, 2005

Can't stop growing old

É hoje que começa a ladeira rumo aos 30 anos. Ontem caí na grande asneira de ler coisas antigas, ver fotos velhas... Entrei numas porque, definitivamente, não me sinto com 25 anos. Pelo menos o que eu sou hoje não tem nada a ver com aquilo que eu idealizava para mim aos 25. Putz, 25 anos é um marco. Não sou o cara maduro que achei que seria, não fiz a maioria das coisas que queria ter feito. Mas pra isso não ficar com cara de epitáfio rancoroso, deixa eu dizer que também fiz muitas coisas legais que não sonhava fazer. Conheci pessoas incríveis, que me ensinaram coisas que mudaram minha forma de pensar o mundo, leves alterações no ideal de felicidade que me fizeram muito bem. Até dos tombos guardo boas recordações. Andei pensando num mito grego sobre um cara que recebe um castigo dos deuses - sua sina seria eternamente carregar uma rocha até o topo da montanha, e quando estivesse quase chegando, a rocha lhe escorregaria dos ombros e ele teria que fazer tudo de novo. Isso é algo frequente na minha vida, recomeçar. Mas não encaro como um castigo, até o contrario. Gosto da sensação de ter uma folha em branco à minha frente para fazer dela o que eu quiser. Carregar a rocha de uma maneira diferente pra ver como é que é. Os amigos me dão a impressão de que essa rocha é mais leve, por isso estejam sempre aí.

Saturday, January 08, 2005

Mulheres à beira da beleza americana

Imagine que o mundo do cinema surtou. Imagine que as protagonistas de "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos" pegaram um Iberia e foram parar em Hollywood, mais precisamente no set de filmagem de "Beleza Americana". O resultado disso seria algo muito parecido com o seriado mais legal dos últimos tempos, Desperate Housewives. O seriado está concentrando a audiência americana nos domingos à noite e deixando os donos da rede abc bem felizes. Aqui no Brasil, pelo menos com minha audiência o canal Sony pode contar (quintas-feiras, às 21h).



O enredo é basicamente a rotina aparentemente calma de cinco donas-de-casa, vizinhas em um bairro típico de periferia norte-americana (lá a periferia é rica). Cada uma dessas mulheres representa um arquétipo bastante distinto das outras: a trintona solteira desesperada pra casar; a mãe de três filhos desesperada por se sentir uma mãe incompetente; a gostosona desesperada por roubar maridos alheios; a certinha quase-robô desesperada para manter as aparências; a interesseira desesperada para manter em segredo sua infidelidade. É tipo um "Sex and The City" pós-matrimônio de periferia, sabe? *Estou criativo para as definições hoje*

Os acontecimentos que afetam a rotina na vida dessas mulheres são o suicídio misterioso de uma vizinha e a chegada de um bom partido solteirão e igualmente misterioso ao bairro. Pitadas de humor negro pontuam a série, que é a recordista em indicações ao Golden Globe deste ano. Viciei.