Friday, December 23, 2005

Uma câmera na mão e uma mão no joelho



Tema ousado, tratamento careta. Esse seria um bom resumo do documentário "Sou Feia Mas Tô Na Moda", sobre o funk carioca, dirigido pela estreante Denise Garcia. Careta porque o filme segue a fórmula batida de entrevistas intercaladas com imagens de shows, não inova em nada. Além disso, não é nada crítico. Passa o tempo todo enaltecendo como o funk é legal e possui uma função social. Sim, o funk carioca é divertido e, sim, possui um efeito social indiscutível, mas será que esse efeito é só positivo? O filme nem quer saber.

Câmera no funkeiro: "Dizem que o funk é pornográfico. Mas e o cara comendo a menininha na novela das oito, não é? Pornografia é a política deste País". Neste momento, a diretora sente espasmos de prazer e fecha o close no rosto do entrevistado. Sem se importar com o tremendo lugar-comum do discurso, parece querer dizer "olha que legal, existe inteligência na favela". Algo me diz que ela veio da USP. Lá, o que mais se encontra é acadêmico enaltecendo qualquer coisa que saia da boca dos pobres, na velha ideologia do "bom selvagem". Se é pobre, é bom.

Mas, claro, o discurso do funkeiro não basta. Há que se buscar embasamento em algum colega da academia. E lá vem a socióloga referendar o caráter feminista de Tati Quebra Barraco. Clichê.

Não que o filme não possua momentos bons, como o rosto quase tímido de Deize Tigrona (a estrela do filme) ao explicar algumas de suas letras. Ou a garota que sente vergonha de admitir que é virgem. O melhor de todos é a seqüência final, quando, em Londres, a vocalista do Tetine, Eliete Mejorado, mostra aquela música "É som de preto/de favelado/mas quando toca, ninguém fica parado" a um taxista africano de uns 60 anos. Mesmo sem entender a letra, nota-se a identificação que ele sente com aquele som de preto pobre. Um bom final para um filme médio.