Terceiras idades
Daí tem aquele filme, "Brokeback Mountain", que é sobre tudo aquilo que vocês ouviram falar, mas também é sobre envelhecer sem se dar conta das oportunidades perdidas. Filme triste, sobre pessoas tristes. Triste como a velhice.
Um dia depois de assistir ao filme, ainda sob seu impacto, sou surpreendido pela presença de uma senhora idosa que eu não conhecia em minha sala. Estava limpando o apartamento, por acaso a porta estava aberta. Alguns segundos depois da minha surpresa inicial, a senhora começa a falar coisas sem sentido. Em looping. Viu "O Aviador"? A cena que marca a loucura da personagem do DiCaprio? (Show me the blueprints. Show me the blueprints. Show me the blueprints...) Era mais ou menos assim.
O mais angustiante é que ela estava sempre a dizer tchau, mas não ia embora. Fui ao corredor e descobri pela porta aberta o apartamento do qual ela havia saído. Pensei duas vezes e decidi acolher a companhia, deixá-la conhecer minha casa. Não estava fazendo mal algum. Havia algo de carência e isolamento naquela senhora que me cortava o coração. Quantas perdas aquelas rugas não registravam? Não demorou e a neta dela foi buscá-la, pedindo mil desculpas. Bobagem, é preciso conviver com os velhos, em alguns anos eles serão maioria. Em alguns anos, eles serão nós.
Na noite do mesmo sábado, ao escovar os dentes na frente do espelho, notei no alto da minha cabeça um brilho prateado. Meu primeiro fio branco.
Um dia depois de assistir ao filme, ainda sob seu impacto, sou surpreendido pela presença de uma senhora idosa que eu não conhecia em minha sala. Estava limpando o apartamento, por acaso a porta estava aberta. Alguns segundos depois da minha surpresa inicial, a senhora começa a falar coisas sem sentido. Em looping. Viu "O Aviador"? A cena que marca a loucura da personagem do DiCaprio? (Show me the blueprints. Show me the blueprints. Show me the blueprints...) Era mais ou menos assim.
O mais angustiante é que ela estava sempre a dizer tchau, mas não ia embora. Fui ao corredor e descobri pela porta aberta o apartamento do qual ela havia saído. Pensei duas vezes e decidi acolher a companhia, deixá-la conhecer minha casa. Não estava fazendo mal algum. Havia algo de carência e isolamento naquela senhora que me cortava o coração. Quantas perdas aquelas rugas não registravam? Não demorou e a neta dela foi buscá-la, pedindo mil desculpas. Bobagem, é preciso conviver com os velhos, em alguns anos eles serão maioria. Em alguns anos, eles serão nós.
Na noite do mesmo sábado, ao escovar os dentes na frente do espelho, notei no alto da minha cabeça um brilho prateado. Meu primeiro fio branco.