Chemical Brothers e o gostinho de quero mais
A popularização da música eletrônica justifica a realização de um evento de grande porte num estádio de futebol - ninguém quer ficar sem ingresso - mas expõe uma série de contradições.
Em primeiro lugar, a qualidade do som fica prejudicada pela dispersão e pelo volume não tão alto. O estádio do Pacaembu é especialmente problemático, dada a sua proximidade com as mansões das respeitáveis senhouras quatrocentonas do bairro, que ficariam muito chateadas com um som muito alto ou que se prolongasse para além da meia-noite.
Adicionalmente, grande parte da graça da música eletrônica é a comoção coletiva (as patys que lotaram o lugar chamariam de vibe), e isso é potencializado pelo ambiente fechado de uma casa noturna, ou no máximo um local aberto, mas menor (alguém aí falou Jóquei Clube?). Em um estádio, isso se perde. Isso não inclui as raves, onde a experiência é mais interna do que externa. Uma rave combina mais com ácido lisérgico, que altera as percepções sensoriais, tipo um processo interior, sabe? Um nightclub combina mais com ecstasy, uma droga que estimula uma certa empatia com as outras pessoas.*
Deste modo, a comparação que se faz entre os grandes DJs de hoje e os rockstars de outrora tem seus limites. O show de ontem seguiu à risca a fórmula dos concertos de rock: ambiente aberto, só cerveja para beber, público disperso, duas horas de apresentação. A única coisa que faltou ser imitada foi exatamente a que fez mais falta: o bis. Não houve, o show acabou meia-noite em ponto e that's all folks. Bem na hora em que a coisa estava esquentando. Quase uma ejaculação precoce.
Dito tudo isso, não pensem que o show em si foi ruim. Os Chemical Brothers começaram com tudo pra ganhar o público: "Hey Boy, Hey Girl", "Under the Influence", "Block Rocking Beats" e "Music: Response" logo de cara. A maior parte do público, no entanto, não respondeu, parecia estar ali pra cabular aula da vizinha Faap, com tudo de veneno que isso possa implicar. Mais pra frente, "Got Glint?", "Out of Control" até chegar nas mais recente e linda "Golden Path" (a frase "Please, forgive me, I never meant to hurt you" bate e fica) e na inédita "Acid Children" (um palhaço do mal repetia no telão: "You are all my children now"). Os irmãos químicos fizeram quase de tudo pra agradar, evitando o bundalelê fatboyslímico de tocar Benjor.
Faltou a vibe, sabe?
*Nenhuma substância proibida foi consumida no processo de criação deste post
Em primeiro lugar, a qualidade do som fica prejudicada pela dispersão e pelo volume não tão alto. O estádio do Pacaembu é especialmente problemático, dada a sua proximidade com as mansões das respeitáveis senhouras quatrocentonas do bairro, que ficariam muito chateadas com um som muito alto ou que se prolongasse para além da meia-noite.
Adicionalmente, grande parte da graça da música eletrônica é a comoção coletiva (as patys que lotaram o lugar chamariam de vibe), e isso é potencializado pelo ambiente fechado de uma casa noturna, ou no máximo um local aberto, mas menor (alguém aí falou Jóquei Clube?). Em um estádio, isso se perde. Isso não inclui as raves, onde a experiência é mais interna do que externa. Uma rave combina mais com ácido lisérgico, que altera as percepções sensoriais, tipo um processo interior, sabe? Um nightclub combina mais com ecstasy, uma droga que estimula uma certa empatia com as outras pessoas.*
Deste modo, a comparação que se faz entre os grandes DJs de hoje e os rockstars de outrora tem seus limites. O show de ontem seguiu à risca a fórmula dos concertos de rock: ambiente aberto, só cerveja para beber, público disperso, duas horas de apresentação. A única coisa que faltou ser imitada foi exatamente a que fez mais falta: o bis. Não houve, o show acabou meia-noite em ponto e that's all folks. Bem na hora em que a coisa estava esquentando. Quase uma ejaculação precoce.
Dito tudo isso, não pensem que o show em si foi ruim. Os Chemical Brothers começaram com tudo pra ganhar o público: "Hey Boy, Hey Girl", "Under the Influence", "Block Rocking Beats" e "Music: Response" logo de cara. A maior parte do público, no entanto, não respondeu, parecia estar ali pra cabular aula da vizinha Faap, com tudo de veneno que isso possa implicar. Mais pra frente, "Got Glint?", "Out of Control" até chegar nas mais recente e linda "Golden Path" (a frase "Please, forgive me, I never meant to hurt you" bate e fica) e na inédita "Acid Children" (um palhaço do mal repetia no telão: "You are all my children now"). Os irmãos químicos fizeram quase de tudo pra agradar, evitando o bundalelê fatboyslímico de tocar Benjor.
Faltou a vibe, sabe?
*Nenhuma substância proibida foi consumida no processo de criação deste post