Estudiado simulacro
Demorei, mas hoje vou falar de Má Educação, o mais recente filme de Pedro Almodóvar. Como vocês também já devem ter visto, nem vou fazer sumário. O filme recebeu algumas críticas negativas, todas por comparação com a chamada trilogia que o diretor completou com Fale Com Ela (os outros são Carne Trêmula e Tudo Sobre Minha Mãe). Pra começar, eu não acho justo depreciar um filme bom porque ele não é, segundo os padrões da crítica, melhor que os últimos do mesmo diretor. Por pior que seja, um Almodóvar vai ser sempre melhor do que a maioria dos filmes que entram em circuito comercial, e só por isso já deveria ser recomendado.
Em Má Educação, o guião de Almodóvar nos faz transitar por três camadas narrativas, onde as coisas não são o que parecem ser. A femme fatale não é uma mulher, a memória nada mais é que uma narrativa e as más intenções são travestidas de sentimento. Tal como a atriz de A gaivota, de Chekhov, Angel (Gael Garcia Bernal) é um ator que interpreta 24 horas por dia. Ele praticamente não existe, é só persona.
Como um bom filme noir que é, Má Educação tem um crime, violência, uma visão invertida das autoridades (neste caso, a igreja), a perspectiva dos criminosos (e aqui todos têm sua culpa no cartório), alianças e lealdade instáveis, complôs e a femme fatale (Gael). Aqui, a sinceridade só existe na infância; em determinado momento da vida, todo cordeiro vira raposa. Ou será que a inocência é só mais um truque da ficção que chamamos de memória?
Almodóvar nos mostra uma realidade que nada mais é do que uma perspectiva pessoal dos fatos. Ele não se apresenta como o detentor da "verdade". Imagino que, se deslocássemos o foco narrativo do personagem Enrique para qualquer outro, teríamos uma estória bastante diferente, e tão fascinante quanto.
-Mooooon ríbeeeeer, yo no te olvidaré...
Pra terminar, gostei de Má Educação porque retoma os temas dos primeiros filmes do diretor, embora seja menos cômico que aqueles. Está tudo lá, as críticas à igreja católica (vide Maus Hábitos), as falhas de caráter (Que eu Fiz Para Merecer Isto?), os gays (A Lei do Desejo), os simulacros (atores aqui, dubladores em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos) e a movida madrilenha dos anos 80. E como já dizia uma música da trilha de Mulheres à Beira...:
Teatro, lo tuyo es puro teatro
Falsedad bien ensayada, estudiado simulacro.
Fue tu mejor actuación destrozar mi corazón.
Y hoy que me lloras de veras,
Recuerdo tu simulacro.
Em Má Educação, o guião de Almodóvar nos faz transitar por três camadas narrativas, onde as coisas não são o que parecem ser. A femme fatale não é uma mulher, a memória nada mais é que uma narrativa e as más intenções são travestidas de sentimento. Tal como a atriz de A gaivota, de Chekhov, Angel (Gael Garcia Bernal) é um ator que interpreta 24 horas por dia. Ele praticamente não existe, é só persona.
Como um bom filme noir que é, Má Educação tem um crime, violência, uma visão invertida das autoridades (neste caso, a igreja), a perspectiva dos criminosos (e aqui todos têm sua culpa no cartório), alianças e lealdade instáveis, complôs e a femme fatale (Gael). Aqui, a sinceridade só existe na infância; em determinado momento da vida, todo cordeiro vira raposa. Ou será que a inocência é só mais um truque da ficção que chamamos de memória?
Almodóvar nos mostra uma realidade que nada mais é do que uma perspectiva pessoal dos fatos. Ele não se apresenta como o detentor da "verdade". Imagino que, se deslocássemos o foco narrativo do personagem Enrique para qualquer outro, teríamos uma estória bastante diferente, e tão fascinante quanto.
-Mooooon ríbeeeeer, yo no te olvidaré...
Pra terminar, gostei de Má Educação porque retoma os temas dos primeiros filmes do diretor, embora seja menos cômico que aqueles. Está tudo lá, as críticas à igreja católica (vide Maus Hábitos), as falhas de caráter (Que eu Fiz Para Merecer Isto?), os gays (A Lei do Desejo), os simulacros (atores aqui, dubladores em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos) e a movida madrilenha dos anos 80. E como já dizia uma música da trilha de Mulheres à Beira...:
Teatro, lo tuyo es puro teatro
Falsedad bien ensayada, estudiado simulacro.
Fue tu mejor actuación destrozar mi corazón.
Y hoy que me lloras de veras,
Recuerdo tu simulacro.