Monday, March 28, 2005

21 Gramas - meu post gótico

Não há graça, a sombra da morte parece estar em todo lugar. Seja na simbologia da Semana Santa que passou, que culmina na ressurreição de Cristo no Domingo de Páscoa, seja na própria condição da saúde do Papa, autoridade máxima da igreja que nos ensinou que os bons em vida serão recompensados depois da morte. Ele deveria ser o último, portanto, a ter medo de morrer, mas continua se agarrando à vida terrena. Isso me deixaria terrivelmente sem direção se eu fosse católico, ou se eu fosse qualquer coisa que não um cínico.

E apesar do meu ceticismo, não tenho uma opinião formada sobre o caso da americana Terri Schiavo. Ela teria dito em consciência que preferiria a morte ao estado vegetativo, mas ninguém pode dizer com propriedade sem ter sentido na pele. Se ela estivesse em condições de manifestar sua vontade agora, com a lucidez do Juan Sampedro no filme Mar Adentro, seria muito diferente. Ele tinha a consciência necessária para optar por sua morte, apesar de não ter condições físicas de levá-la a cabo. Sem essa lucidez, a eutanásia aproxima-se perigosamente do assassinato. Ainda mais quando pai e mãe são contra. Ainda mais quando ela parece sorrir em imagens na televisão. Muito complicado.

Morte na televisão, morte no cinema. Ainda não vi Menina de Ouro, nem Reencarnação, mas pude conferir a prisão perpétua de Samara no mundo de Hades. Será definitivo mesmo? Tomara, porque a continuação de O Chamado é ruim de doer (a Marrom que o diga). E se no filme de terror a separação entre o mundo de cá e o de lá está na materialidade de um VHS, nas fotografias do alemão Walter Schels essa separação é etérea.


Gerda Strech tinha câncer e ia à igreja perguntar: "Precisa ser agora?"

O artista fez em parceria com Beate Lakotta uma série de entrevistas e retratos duplos de doentes terminais, a maioria de câncer. As fotos estão em exposição na cidade de Kessel, Alemanha. As pessoas são mostradas pouco antes e pouco depois de morrer, e eu fiquei com a impressão de que os moribundos parecem mais mortos que o próprio morto. Há na consciência da morte um peso que não aparece no rosto de uma pessoa falecida. Quase dá pra tocar a pulsão de morte freudiana. Eles parecem libertos de alguma coisa. Desses 21 gramas pesados que todos nós carregamos.

Atendendo a pedido, o link pras fotos. Tem que clicar ali em Übersicht, ok?