Friday, January 21, 2005

Cada um com seu cada qual

As pessoas que estão sempre em evidência têm a mania de opinar sobre assuntos que não dominam. Com o microfone sempre à boca, fica difícil não sair distribuindo "eu achos" a torto e a direito. Se a gente, com um simples e modesto blog já não resiste a fazê-lo, imagine quem tem a grande mídia à sua disposição?

É preciso, pois, uma inteligência bem acima da média e força de espírito para não cair nessa tentação. Digo isso sob o impacto da leitura da entrevista da Björk para a excelente revista espanhola H (lê-se ´atche´, vale?).

"Se todos fizermos canções do tipo "I hate Bush, I hate Bush", fica tipo "e daí?". Se você só se centra em um problema, passa a fazer parte dele. (...) Caralho, eu estou tentando ter uma vida emocional e a política deveria ocupar uns 2% dessa vida. (...) Penso que se o artista tem um dever, esse dever é ter idéias melhores. Temos outro tipo de vitalidade e é nossa responsabilidade protegê-la" .

Resumindo, artistas devem fazer arte, não política. A menos que você seja o Eduardo Suplicy e realmente acredite que sabe cantar. A menos que você seja o Gilberto Gil e ganhe um cargo político. Lembrei-me de uma entrevista recente, que minha cabeça errada e velha não vai ter certeza sobre onde saiu nem mesmo sobre quem dizia. Eu acho que foi o Chico Buarque, e ele respondia algo parecido quando lhe perguntavam sobre a política econômica do governo. Algo como: se eles estudaram anos e anos para serem economistas e se conseguiram chegar ao posto que chegaram, quam sou eu para dizer que estão errados? Deixem a economia para os economistas discutirem.

Isso tudo não quer dizer que não devamos ter opiniões, mas sim que elas devem ser difundidas proporcionalmente ao conhecimento que temos sobre aquele assunto. Em um nível mais pessoal, todos têm o direito de formar e difundir sua opinião. Mas seria irresponsável um médico opinar sobre usinas de energia nuclear na mídia, por exemplo.