E civilização, o que é?
"Um Filme Falado", do cineasta português Manoel de Oliveira, é uma aula bem dinâmica de História Antiga. Dessas com h maiúsculo mesmo, didática, professoral. Mas sua graça não está só nisso, e sim nas subleituras que o filme permite, e que o transformam magicamente em uma aula de História Contemporânea. É nas entrelinhas, portanto, que está o melhor do filme. Por isso, acredito que quem viu e não gostou ou foi por não concordar com as posições políticas do diretor, o que é válido, ou foi por simplesmente não as ter notado. Preguiça mental, em outras palavras.
O roteiro evidente é o seguinte: uma professora de História da Universidade de Lisboa faz com sua filha miúda um cruzeiro pelo Mediterrâneo, rumo à Índia. Ela pretende se encontrar com seu marido em Bombaim. No trajeto, o navio vai parando em várias cidades, nas quais a professora aproveita para visitar os lugares que só conhecia em livros. Marselha, Atenas, Pompéia, Istambul...
No subtexto, o diretor aborda o lugar de Portugal na globalização. Isso fica evidente no restaurante do navio, onde quatro pessoas, de nacionalidades diferentes, sentam à mesma mesa. Um americano (John Malkovich), uma italiana, uma francesa (Catherine Deneuve) e uma grega travam longa conversa, cada um falando em sua própria língua. Nessa Babel em pequena escala, todos se entendem. Quando a portuguesa se junta ao grupo, no entanto, é obrigada a se comunicar em francês ou inglês, pois ninguém fala sua língua (à exceção do personagem de Malkovich, que aprendeu um pouco de português, mas no Brasil).
A curiosidade infantil da filha é um dos meios pelos quais o filme dá seus pitacos. Os "why" e "what" da menina acabam por abordar inocentemente uma série de temas contemporâneos, como a globalização, o terrorismo, as guerras religiosas, a integração européia e o choque entre o Ocidente e o Oriente Médio. "Em que Idade Média estamos?", pergunta a garotinha, ao saber que a antiga igreja católica que visitavam, em Istambul, havia sido tranformada em mesquita depois de uma guerra medieval. Não é fácil explicar a uma criança que homens se matavam em nome de Deus (o pretérito imperfeito é ironia).
Horas depois de ter visto o filme, recebo a notícia dos atentados terroristas em Londres. "Em que Idade Média estamos?"
***
Enquanto isso, na GloboNews...
"O Papa João Paulo II manifestou seu repúdio aos ataques ocorridos em Londres nesta manhã..."
Juro!
::Atualizando::
Aí o Stevie Wonder volta com uma música excelente, pedindo mais vergonha na cara em um mundo onde ninguém percebe que a paz é o caminho. Acho que a pista de dança é outro caminho possível. Tem o Prince na guitarra. É uma paulada na paranóia americana, mas muito sutil, porque ele é de Milano. Shame on me, shame on you, shame on them, shame on us...
So what the fuss
O roteiro evidente é o seguinte: uma professora de História da Universidade de Lisboa faz com sua filha miúda um cruzeiro pelo Mediterrâneo, rumo à Índia. Ela pretende se encontrar com seu marido em Bombaim. No trajeto, o navio vai parando em várias cidades, nas quais a professora aproveita para visitar os lugares que só conhecia em livros. Marselha, Atenas, Pompéia, Istambul...
No subtexto, o diretor aborda o lugar de Portugal na globalização. Isso fica evidente no restaurante do navio, onde quatro pessoas, de nacionalidades diferentes, sentam à mesma mesa. Um americano (John Malkovich), uma italiana, uma francesa (Catherine Deneuve) e uma grega travam longa conversa, cada um falando em sua própria língua. Nessa Babel em pequena escala, todos se entendem. Quando a portuguesa se junta ao grupo, no entanto, é obrigada a se comunicar em francês ou inglês, pois ninguém fala sua língua (à exceção do personagem de Malkovich, que aprendeu um pouco de português, mas no Brasil).
A curiosidade infantil da filha é um dos meios pelos quais o filme dá seus pitacos. Os "why" e "what" da menina acabam por abordar inocentemente uma série de temas contemporâneos, como a globalização, o terrorismo, as guerras religiosas, a integração européia e o choque entre o Ocidente e o Oriente Médio. "Em que Idade Média estamos?", pergunta a garotinha, ao saber que a antiga igreja católica que visitavam, em Istambul, havia sido tranformada em mesquita depois de uma guerra medieval. Não é fácil explicar a uma criança que homens se matavam em nome de Deus (o pretérito imperfeito é ironia).
Horas depois de ter visto o filme, recebo a notícia dos atentados terroristas em Londres. "Em que Idade Média estamos?"
***
Enquanto isso, na GloboNews...
"O Papa João Paulo II manifestou seu repúdio aos ataques ocorridos em Londres nesta manhã..."
Juro!
::Atualizando::
Aí o Stevie Wonder volta com uma música excelente, pedindo mais vergonha na cara em um mundo onde ninguém percebe que a paz é o caminho. Acho que a pista de dança é outro caminho possível. Tem o Prince na guitarra. É uma paulada na paranóia americana, mas muito sutil, porque ele é de Milano. Shame on me, shame on you, shame on them, shame on us...
So what the fuss