Meu 11 de setembro
Mais uma manhã? Corro para o trabalho, atrasado como sempre e como nunca. Penso em uma desculpa para o caso de o chefe reclamar. Transporte público ineficaz, décadas de negligência, seqüência de gestões municipais incompetentes, falta de planejamento urbano, sabe como é, chefe. Ele saberá. É, como eu, usuário da malha pública. Ops, se ele não chegou atrasado, lá se esvai minha desculpa pelo bueiro.
Chego ao prédio. Procuro os elevadores, desviando o olhar das pessoas paradas no hall de entrada. Todos os ascensores estão com as portas abertas, e seguranças copiam no rádio qualquer coisa sobre falha no sistema.
- O que houve? Não se pode subir?
- Falha no sistema, senhor. Os elevadores estão desligados.
Tento, então, a escada. Já não me importo com o horário, minha desculpa me caiu no colo. Não me importo nem mesmo com os mais de dez andares que terei de subir. Logo no segundo andar das escadarias frias e vazias, um sinal de alerta ecoa. Soa como algo entre o HAL 9000 e um marcador cardíaco de UTI. Sinistro, de tal modo que me chama mais a atenção o inusitado da situação do que a mensagem que se segue ao bip.
Dois lances de escada acima, encontro alguém na direção contrária.
- Mano, eu precisava estar no consulado em dez minutos. Caraio, isso só acontece comigo!
Entendi que era pra descer, mesmo porque logo atrás dele vinham outras dezenas de pessoas. Não pareciam assustados, falavam alto, coisas sobre o Joelma, o Andrauss e o 11 de setembro. Não precisou de muito mais para eu apertar o passo.
De volta ao saguão, tento passar pela catraca, que não funciona. A multidão começa a se acumular, e demora algum tempo para que os seguranças percebam que não fazia sentido pedir a evacuação do prédio e ao mesmo tempo exigir que todos marcassem a saída. Liberam, enfim, a passagem lateral.
Na saída, alguns combinavam o almoço antecipado, outros imaginavam o raio afetado pelos vidros das janelas em caso de explosão, muitos imaginavam no atraso que essa maldita emergência causaria nas tarefas do dia. Aqui e acolá, um "menina, esqueci minha bolsa!".
- Pessoal, é isso, já pode voltar.
No saguão, uma multidão de pessoas saindo encontra outra multidão entrando, e ninguém entende direito o que está acontecendo. Ouço alguém falar que das copas não se ouve o alarme. Isso deve querer dizer alguma coisa. Deixo pra pensar depois que eu conseguir entrar em um dos elevadores hiperlotados, porque agora penso só na minha própria segurança. Será que não estamos acima do peso permitido por elevador?
O exercício de segurança, disseram, foi um sucesso. O sucesso é uma coisa relativa. Para Bin Laden, o 11 de Setembro foi um sucesso.
Chego ao prédio. Procuro os elevadores, desviando o olhar das pessoas paradas no hall de entrada. Todos os ascensores estão com as portas abertas, e seguranças copiam no rádio qualquer coisa sobre falha no sistema.
- O que houve? Não se pode subir?
- Falha no sistema, senhor. Os elevadores estão desligados.
Tento, então, a escada. Já não me importo com o horário, minha desculpa me caiu no colo. Não me importo nem mesmo com os mais de dez andares que terei de subir. Logo no segundo andar das escadarias frias e vazias, um sinal de alerta ecoa. Soa como algo entre o HAL 9000 e um marcador cardíaco de UTI. Sinistro, de tal modo que me chama mais a atenção o inusitado da situação do que a mensagem que se segue ao bip.
Dois lances de escada acima, encontro alguém na direção contrária.
- Mano, eu precisava estar no consulado em dez minutos. Caraio, isso só acontece comigo!
Entendi que era pra descer, mesmo porque logo atrás dele vinham outras dezenas de pessoas. Não pareciam assustados, falavam alto, coisas sobre o Joelma, o Andrauss e o 11 de setembro. Não precisou de muito mais para eu apertar o passo.
De volta ao saguão, tento passar pela catraca, que não funciona. A multidão começa a se acumular, e demora algum tempo para que os seguranças percebam que não fazia sentido pedir a evacuação do prédio e ao mesmo tempo exigir que todos marcassem a saída. Liberam, enfim, a passagem lateral.
Na saída, alguns combinavam o almoço antecipado, outros imaginavam o raio afetado pelos vidros das janelas em caso de explosão, muitos imaginavam no atraso que essa maldita emergência causaria nas tarefas do dia. Aqui e acolá, um "menina, esqueci minha bolsa!".
- Pessoal, é isso, já pode voltar.
No saguão, uma multidão de pessoas saindo encontra outra multidão entrando, e ninguém entende direito o que está acontecendo. Ouço alguém falar que das copas não se ouve o alarme. Isso deve querer dizer alguma coisa. Deixo pra pensar depois que eu conseguir entrar em um dos elevadores hiperlotados, porque agora penso só na minha própria segurança. Será que não estamos acima do peso permitido por elevador?
O exercício de segurança, disseram, foi um sucesso. O sucesso é uma coisa relativa. Para Bin Laden, o 11 de Setembro foi um sucesso.