Wednesday, March 30, 2005

Pagando bem...

Eu ainda tenho meus momentos de otimismo, sabe? Por exemplo, nos últimos dias as rádios farofa de São Paulo têm tocado músicas boas. Não, eu não acredito que os programadores tenham tido um surto de bom gosto, meu otimismo não reside aí. O que eu acho é que as gravadoras estão mais atentas ao gosto do público e começam a pagar jabá para pôr música boa no ar. Entenderam que não é só música ruim que cai no gosto popular quando enfiada goela abaixo.

Nesta semana eu ouvi incontáveis vezes em emissoras como a Jovem Pan FM, a Metropolitana e a Transamérica a música "Somebody Told Me", da banda americana The Killers. Com influências declaradas de Morrissey (ele), Bowie (o David), Ocasek (o Ric do Cars), Gallagher (o Noel do Oasis), Presley (o Elvis), Smith (o Robert do Cure), Sumner (o Bernard do New Order), Corgan (o Billy dos Smashing Pumpkins), Cocker (o Jarvis do Pulp ou o Joe?), Byrne (o David) e Lennon (o John), eles podem ser tudo menos a cara dessas rádios. Como explicar então o repentino e simultâneo interesse indie?


É pra tocar os "the quem"? Pagando bem, que mal que tem?

E não só, esta banda aparece nos top ten (ó o jabá de novo) acompanhada dos novos singles de Gorillaz (a suja, gostosa e maloqueira "Feel Good Inc.") e Gwen Stefani (a regravação "Rich Girl", não a melhor do CD, mas ainda assim boa).

Talvez isso tenha acontecido depois do sucesso de festivais de bom gosto como o Tim Festival e de bandas "independentes" como o Franz Ferdinand. Perceberam finalmente que chique é ser inteligente. Estou otimista, de verdade.

Pena que o caso da MTV Brasil seja outro. Bem de vez em quando eles apostam em coisas como a nova do Beck, "E-Pro". Mas enquanto não estréia a MTV 2, a emissora continua em seu caminho inexorável para o brejo. O Lúcio Ribeiro mostrava em sua última coluna on-line uma comparação entre uma seqüência aleatória de dez músicas na MTV Latino e dez na nacional. O cenário era feio, tipo Audio Bullys, Modest Mouse e Interpol contra Detonautas, Engenheiros do Hawaii e Evanescence. Preguiça. Menos de dez anos atrás, o Beck convivia bem com Spice Girls na programação. Hoje é um estranho no ninho. Aí não há otimismo que vença.

BTW, já ouviu "Smile Like You Mean It" do Killers? Linda; diz que toca no The O.C.

Monday, March 28, 2005

21 Gramas - meu post gótico

Não há graça, a sombra da morte parece estar em todo lugar. Seja na simbologia da Semana Santa que passou, que culmina na ressurreição de Cristo no Domingo de Páscoa, seja na própria condição da saúde do Papa, autoridade máxima da igreja que nos ensinou que os bons em vida serão recompensados depois da morte. Ele deveria ser o último, portanto, a ter medo de morrer, mas continua se agarrando à vida terrena. Isso me deixaria terrivelmente sem direção se eu fosse católico, ou se eu fosse qualquer coisa que não um cínico.

E apesar do meu ceticismo, não tenho uma opinião formada sobre o caso da americana Terri Schiavo. Ela teria dito em consciência que preferiria a morte ao estado vegetativo, mas ninguém pode dizer com propriedade sem ter sentido na pele. Se ela estivesse em condições de manifestar sua vontade agora, com a lucidez do Juan Sampedro no filme Mar Adentro, seria muito diferente. Ele tinha a consciência necessária para optar por sua morte, apesar de não ter condições físicas de levá-la a cabo. Sem essa lucidez, a eutanásia aproxima-se perigosamente do assassinato. Ainda mais quando pai e mãe são contra. Ainda mais quando ela parece sorrir em imagens na televisão. Muito complicado.

Morte na televisão, morte no cinema. Ainda não vi Menina de Ouro, nem Reencarnação, mas pude conferir a prisão perpétua de Samara no mundo de Hades. Será definitivo mesmo? Tomara, porque a continuação de O Chamado é ruim de doer (a Marrom que o diga). E se no filme de terror a separação entre o mundo de cá e o de lá está na materialidade de um VHS, nas fotografias do alemão Walter Schels essa separação é etérea.


Gerda Strech tinha câncer e ia à igreja perguntar: "Precisa ser agora?"

O artista fez em parceria com Beate Lakotta uma série de entrevistas e retratos duplos de doentes terminais, a maioria de câncer. As fotos estão em exposição na cidade de Kessel, Alemanha. As pessoas são mostradas pouco antes e pouco depois de morrer, e eu fiquei com a impressão de que os moribundos parecem mais mortos que o próprio morto. Há na consciência da morte um peso que não aparece no rosto de uma pessoa falecida. Quase dá pra tocar a pulsão de morte freudiana. Eles parecem libertos de alguma coisa. Desses 21 gramas pesados que todos nós carregamos.

Atendendo a pedido, o link pras fotos. Tem que clicar ali em Übersicht, ok?

Tuesday, March 22, 2005

I was lost. Now I´m found.

Desde a estréia de Desperate Housewives no Brasil, ninguém precisava de mais uma série maravilhosa para nos tomar uma hora semanal. Mesmo assim, o canal a cabo AXN está transmitindo há três semanas Lost, a segunda série mais comentada lá na América (a do Norte).

Uma mistura de drama, ação, suspense, romance e ficção científica, o argumento de Lost começa com a queda de um avião em uma ilha no Oceano Pacífico, à qual alguns passageiros sobrevivem. Não bastasse isso, o resgate não vem, os aparelhos de telecomunicações do avião não funcionam e a ilha parece estar localizada em uma realidade paralela, onde monstros misteriosos arrancam árvores e comem gente sem serem vistos, ursos polares vivem em clima tropical e mensagens de socorro em francês são repetidas em loop. No último episódio, engravatados apareciam na praia e sumiam misteriosamente, sem deixar rastro.


- Ei, já chegamos à Terra Média? Onde está Frodo?

A maior graça de Lost está na constatação de que o verdadeiro perdido do título é o espectador. Cada personagem, apesar de não conhecer a pessoa que está ao lado, sabe perfeitamente quem é e do que é capaz, enquanto nós, os telespectadores, temos que nos contentar com vislumbres de suas vidas oferecidos em “flashback”. Até mesmo o tal “monstro que ninguém sabe o que é” já foi visto por um dos personagens, enquanto nós ficamos a ver navios (rá!).

E o roteiro brinca o tempo todo com o não-sabido: a partir do momento em que você está numa ilha perdida e ninguém ali lhe conhece, você está desconectado do seu histórico e pode ser quem quiser. Não é tentador? Por isso mesmo, alguns personagens podem considerar o desastre como um evento de sorte. Não é o caso do iraquiano Sayid, suspeito natural pelo acidente.


- Droga! Era um atentado suicida e eu sobrevivi.
- Eu sobrevivi à queda porque quiquei.


Com um roteiro muito bem montado e um elenco de primeira, o programa só peca na pouca profundidade de alguns personagens e suas atitudes infundadas, convenientes apenas para adicionar mais conflitos à trama. Por exemplo, por que os personagens coreanos insistem em falar se sabem que ninguém entende sua língua? Tenho preguiça deles.

Na Internet, pipocam sites sobre o programa e teorias que tentam desvendar seus mistérios. Em um desses sites, um fã descreveu sua hipótese:
- I think that the "Monster" is some kind of Satanic being. I also think that the crash victims are all truly dead. They are all stuck in some kind of Purgatory between life and death.
Será?

América em Jacarepaguá

Eu não vejo novela, mas estou pensando seriamente em acompanhar América, a nova campeã em humor involuntário. Deixemos de lado o sotaque “chicano verguenza alheia” da Cláudia Gimenez e falemos de uma cena que foi ao ar ontem. O que foi a Deborah Secco com a Rosi Campos e meia dúzia de figurantes atravessando a fronteira do México com os Estados Unidos na novela das oito? Faz tempo que a televisão brasileira não produzia uma cena tão cômica. A locação era totalmente fake: um rio ridículo de meio metro de “fundura” e nenhuma correnteza.

- Segure bem a corda, ou a correnteza te leva! – gritou Rosi, sem demonstrar muito constrangimento.

E aí abre o plano e a gente vê uma foto do Rio Grande com um grupinho de gente enxertado no meio, tipo Photoshop, mas sem ajustar a cor. Tipo clipes do Fantástico no início da década de 80, sabe como?

Antes do final da travessia, os “tiras” pegam todos no flagra e tudo fica ainda mais cômico. Sem muita cerimônia, começam a atirar contra os imigrantes ilegais. Estava difícil parar de rir da cara da Secco sendo pega no pulo e tentando desviar dos tiros. E isso porque o humor foi involuntário. Voto em Glória Perez pela salvação do Zorra Total.