Tuesday, June 26, 2007

Sucré ou salé?

* Voltando a Cannes, eu era o único abaixo dos 60 anos usando sunga na praia. Eu tinha me esquecido de que na Europa é calção. Na praia em que eu estava, só mostrava as coxinhas quem já havia tocado o foda-se na vida. O mesmo acontecia com os tão famosos top-less das francesas. Sunga e top-less só era tendência nesta temporada para a terceira idade (exemplar abaixo). Toquei o foda-se também.


* Agora, a um fait divers, como dizem por lá: no entorno do Palais des Festivals há uma espécie de calçada da fama. Roman Polanski, Tim Robbins, Jeanne Moreau, Gerard Depardieu e vários outros astros do cinema deixaram as marcas de suas mãos nesse circuito. Fui seguindo distraidamente a rota até chegar à mão de ninguém menos que David Lynch. Emocionado, peguei minha câmera e tirei uma foto. Ao levantar a cabeça, me deparei com outra mão estendida à minha frente, esta dentro de uma luva branca. O dono dela era um Pato Donald mal diagramado de 1,80 m. Certo de que estava em um outtake de "Cidade dos Sonhos", tomei um susto tão grande que nem cheguei a retribuir o cumprimento: dei um salto para trás, encontrei uma distância segura e tirei uma foto para registrar o momento. O Donald francês me lembrou o Mickey da Jihad. Muito medo.


* Minha Côte não era tão Azur quanto a do Felipe.


* Foi minha segunda vez na França, e nas duas ocasiões havia uma coisa com a qual eu não conseguia me conformar: as pessoas falam francês no dia-a-dia! Tem noção? No meu imaginário, o francês é uma língua tão afrescalhada que só existe para ser usada em ocasiões especiais. Em um menu de haute cuisine, por exemplo. Quando a comissária de bordo me perguntou se eu queria biscuit sucré ou salé, eu comecei a imaginar quais talheres seriam apropriados para tão refinados acepipes.

* Recordar é viver: sou fluente em franco-português condadiano.

Dias de bon vivant

Como alguns de vocês já sabem, na semana passada fui a Cannes, a trabalho. A pauta envolvia, é claro, o festival de publicidade que acontecia por lá. Se há uma resposta para a pergunta boba do post anterior, com base nesta experiência dá para dizer que tanto publicitários quanto franceses são boa gente. Tive experiências piores antes, sobretudo com franceses, mas deixemos isso de lado.

Antes da minha aventura tive que amargar umas horas dentro do avião, que demorou quase 4 horas para levantar vôo de Cumbica. A mais recente confusão envolvendo os controladores de vôo havia começado quase na hora da decolagem, lucky me. Mas uma espera dentro de um avião da Air France significa ficar vendo filmes e tomando champagne, o que não é de todo mau. O problema maior é que, com o atraso, perdi minha conexão em Paris para Nice, e acabei chegando em Cannes 5 horas depois do previsto. C'est la vie.

Eu estava bastante inseguro quanto a como eu me viraria na França sem falar mais do que meia dúzia de frases prontas, mas para minha surpresa elas se revelaram bastante satisfatórias. Eu sabia explicar que não sabia falar francês, ao menos. Antes de partir, recebi um conselho de uma amiga que se revelou precioso: jamais se dirija a um francês sem antes dizer um bonjour (ou bonsoir, se for o caso). Mesmo que logo em seguida eu disparasse a falar inglês, era ouvido com um sorriso.

Uma pena o tempo ter sido curto e eu não ter podido interagir mais com os locais. Mas não posso reclamar se eu consegui pegar praia na Côte D'Azur, certo? Eu estava com uma vergonha imensa, me sentindo a pessoa mais pálida do verão europeu. Acho até que exagerei um pouco e fiquei meio tostado. Flambé.

De resto, a região é espetacular. E isso dá para notar já no aeroporto de Nice. Nice was very nice (mal podia esperar para soltar essa piada sofrível).

Volto depois com mais histórias. Ilustradas.

Monday, June 18, 2007

Uhu, Côte D'Azur

Franceses ou publicitários: com qual raça será mais difícil de lidar? Resposta aqui, em breve.

Tuesday, June 12, 2007

É Fantástico!


Se ela continuar a usar brincos desse tamanho, o próximo desliza junto com a orelha para dentro do decote.

Wednesday, June 06, 2007

Razões de minha preguiça

1- "Pedra do Reino" está para estrear. É Luiz Fernando Carvalho de volta, depois de "Hoje É Dia de Maria". Prenúncio de um Nordeste poético, um Ariano Suassuna lírico, um sertão rococó, um pé tamanho 48 no saco.

2- Cirque du Soleil inicia em setembro sua segunda turnê no Brasil. Nunca a expressão "eu quero ver o circo pegar fogo" fez tanto sentido.

3- Alunos da USP "abraçam" a torre do relógio. Qual será o próximo ato? Cantar "Pra Não Dizer Que não Falei das Flores"?

Monday, June 04, 2007

Uma vela para Mac

Tá frio mesmo, não é? Mac também acha, assim como acha chique meu aquecedor elétrico. Por isso, Mac também comprou um para ele. O aquecedor chegou ao Condado hoje. Mac abriu a caixa do aquecedor e, prudente, leu o manual de instruções. Lá dizia: "não ligar o aquecedor através de uma extensão". Ciente de que, além de jornalista, eu sou técnico em eletrotécnica (incompetente, mas sou), Mac decidiu me consultar sobre os riscos de não seguir essa recomendação. Grandes explosões ou incêndios estavam fora de cogitação. Talvez um fusível queimado ou uma tomada em curto-circuito, afirmei. Mac resolveu tentar mesmo assim.

Mac diz:
momentos de tensão
Mac diz:
acabei de ligar na extensão mesmo. não tem alternativa
Ants diz:
mas momentos de tensão 220 ou 110?
Mac diz:
110. isso melhora algo?
Ants diz:
foi só uma piada
Mac diz:
kkk
Mac diz:
última pergunta
Mac diz:
não deu curto, já liguei. isso significa que posso ficar tranqüilo ou nada impede que daqui meia hora dê pobrema?
Ants diz:
nada impede que daqui meia hora dê pobrema

3 minutos depois, Mac fica offline.

Meu telefone toca. Era Mac. No escuro.

Friday, June 01, 2007

487

487 era o número da minha senha na fila para renovar o passaporte, na sede da Polícia Federal no bairro da Lapa. Cheguei antes das 7h da manhã e só saí de lá às 15h30. 113 pessoas ainda saíram depois de mim, já que foram 600 senhas distribuídas no dia. O primeiro da fila havia chegado às 22h30 do dia anterior. O segundo, à meia-noite. Houve gente que levou banquinho para descansar o peso da burocracia. Houve gente que levou cobertor para suportar o frio da madrugada. Eu levei muita paciência e um dia de folga no trabalho.

Interessante reparar nos tipos que circulavam por ali: de religiosos com prováveis missões no exterior a travestis com passagem marcada para Milano, Zurique ou Paris.

Enquanto aguardava minha vez, já imaginava a cara que eu ia fazer para tirar a foto do passaporte, simulando um mínimo de simpatia depois de horas mofando numa fila tediosa, em um prédio hediondo de tão feio. Sério, apesar dos milhões superfaturados que aquele bloco de concreto cafona deve ter custado, era uma das construções mais feias que eu já vi. Destaque para uma escada helicoidal ligando os três pavimentos, que de tão medonha deveria ser banida pela Operação Cidade Limpa.

Mas voltando à cara de foto, notei que não era só minha essa preocupação. Vi uma mulher de peruca (e pode?) e outra com a sobrancelha desenhada com delineador (e pode?). A mulher atrás de mim na fila, uma senhora mulata muito simpática, falava ao celular sobre a escova que fizera no dia anterior para sair bem na foto. Kkkkk! A adolescente oriental à minha frente levou estojo de maquiagem. Eu, não adepto de escova, peruca e muito menos de maquiagem, estava em maus lençóis.

Pode escrever aí: os passaportes tirados em São Paulo este ano serão uma coleção de Glória Perez' Eyes nunca antes vista. Fruto de uma noite mal dormida e horas de fila. Muito medo.

Na hora da foto, a policial que me atendeu me perguntou se eu era militar, pois, segundo ela, eu tinha cara de ser do Exército. A idéia me pareceu absurda e isso me fez rir, já que o certificado de dispensa da corporação é um dos documentos exigidos e estava na mão dela. O resquício de riso na foto ficou simpático, e até me pareceu que não saí tão mal assim. Mas pode ser que eu tenha me acostumado à feiúra do prédio e, na comparação, meu rosto cheio de olheiras levou vantagem.